NA SOMBRA...

NA SOMBRA...
Vem comigo?

sexta-feira, 2 de maio de 2014

ADEUS

Fica na solidao
Bate rouco
Bate surdo
Fica na ilusao
Bate pouco
Bate no absurdo
Fica no chao
Bate louco
Bate mudo
Fica.
Bate.
Rouco, surdo, pouco, absurdo, louco e mudo coraçao.

MASA, 27/5/1999

segunda-feira, 28 de abril de 2014

CANA BRABA E VONTADE

Bebado como a cana,
com saudades de voce, como um sacana,
com teu cheiro me impregnando,
como um sonho,
na nossa cama,
na nossa boca,
no nosso rola, morde e arranha.

MASA
21/5/1999

SAUDADE

A saudade é uma ilusao.
O ilusionismo da saudade é o que move a açao.
O saudosismo da ilusao é o que pulsa o coraçao.
Longe, sem tua visualizaçao,
Me sobra a boca,
Me toca a nuca,
Me fecham os olhos.
Some tua voz,
Some teu calor...
Por tanto amar,
Por tanto amor.

MASA
18/5/1999

terça-feira, 22 de abril de 2014

O ENCONTRO!

Luziam as primeiras flores da manha, o sol timido espreitava minha ansiedade como a brincar de pique-esconde. Meus olhos perdidos no horizonte esperavam que tudo mudasse, de repente, 'nao mais que de repente', pela presença do perfume.
Em alguns instantes, chegou a hora do amor, a hora do ardor, a hora de tentar passar atraves do impenetravel, como se o abraço fosse a coisa mais importante que aquele momento mundano poderia apresentar.
E dali nao queria sair jamais, mas nao havia outra alternativa. E assim ficaram por dias, entre o perfume inebriante, a boca sedutora, o vinho amaciante e a explosao de amor
que sempre entra em erupcao quando aqueles olhos se olham."

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Rato vira-lata

Tem uma frase muito boa do Raul Seixas que significa que é melhor ser burro que sofrer pelas coisas da vida, mais ou menos isso.
Tô fudido demais porque, além de ser burro, eu sofro pelas coisas da vida.
Da minha, de amigos, do vira-lata vagante da minha área, do ratinho da minha cozinha (mamita vai matá-lo envenenado, em breve).
Com isso, a porosidade de minha sensibilidade não repele a quantidade de absurdo que vem e passa. E vou eu a buscar pandemônio na filosofia, nas idéias alheias próximas, no álcool, nas drogas proibidas pelos homens da lei que mais gosto e que menos me custam a civilidade (é isso? sou burro...). Assim o fervilhão me deixa pastando na impotência do grito inútil. Se o grito, que logo me deixa rouco mas é um berrante, é inútil, imagina tudo o que não tento calado?
Tento não me aproximar muito da atualidade.
Deixo minhas lágrimas escorrendo pelos povos incas, pelos índios que povoavam o Rio de Janeiro e São Paulo, pelos Bundas, que deram nome brasileirinho às nádegas sulamericanas, pelos igapós e igarapés que singravam minha floresta querida, reduzida a cimento e ignorantes, bestializados, pelos dinossauros (queria um de estimação, mas a porra da chuva de meteoros fudeu com tudo). E choro. Sinto a perda da cultura, a dificuldade de aceitação do diferente, desconhecido, não alinhado. Da afinidade com o silêncio humano pra que a natureza possa nos contar tudo o que viu e verá, o simples silêncio respeitoso a quem, de fato, comanda toda a balbúrdia incompreensível desde os tempos em que antropomorfizamos o inantropomorfizável! (hein? Pode ser assim?).
Ainda há pouco tempo convivi com mortes naturais e outras premeditadas de pessoas ao redor. E choro. Por estar vivo.
Não tenho escolha. O suicídio é honroso demais pra mim, que sou quase um pulha. Me resta viver.
Vou me aninhar com o vira-lata da rua ou meu pequeno ratinho azarado.
Quem sabe aprendo alguma coisa de útil com eles? Porque ultimamente meus semelhantes só me ensinam o que não consigo aprender nem apreender, talvez por estupidez, talvez por inocência ou respeito aos velhos índios que foram dizimados por acreditar demais.
Vou voltar a subir em árvores. Era dali de cima que eu achava tudo mais bonito, sem contar que é onde estão as melhores frutas.
Vou subir em árvores. Pra que as formigas andem em mim com a intimidade de um metrô de Tóquio.
Subir e escutar as árvores traduzindo o vento.
Essa sim, uma linguagem universal...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Água


Roubaram a água.
Creio que já chorei por aqui sobre o desperdício dos mananciais da floresta encantada, mas ultimamente, como ando muito pela cidade, resolvi visitar os açudes e igarapés que fizeram minha infância subaquática, quase anfíbia.
SUMIRAM!
E o que restou se transformou num rastro de bosta!
Açudes inteiros aterrados e cimentados, áreas alagadiças transformadas em ruas (a Baixada da Habitasa todo ano recebe visitas do Rio Acre), igarapés que cortavam a cidade toda sumiram do mapa, sem deixar vestígios.
Alguns, como o velho CHico, resistem bravamente, virando depósito de lixo e esgoto. Apesar dos esforços hercúleos dos órgãos competentes, a ação humana invadindo e desmatando áreas de proteção permanente à beira desses leitos, acaba por transformar tudo em nada.
Há meses acompanho uma APP no Bairro Conquista. Em pouco mais de dois meses, quatro casas subiram em aterros irregulares às margens do pequeno igarapé que, como tantos outros, parece estar com os dias contados...
E o que nos sobra? CALOR!
Cimento.
Asfalto.
Sem árvores.
Sem água.
Sem frutas.
Sem peixes.
A cidade está se transformando num grande seringal, dependente de tudo o que venha de caminhão pro armazém do Seu Menino, lá dos sudestes do país.
Quando eu imaginei que entraria em um mercado pra comprar banana? Caju? Melancia?
Já pode sentar e chorar (mesmo sem ter lido nem gostar de Pau no Coelho?)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Escuridão.


21/10/2011
Quando tem mais pessoas nas igrejas que nas escolas, é porque tem alguma coisa muito errada na condução pública da coisa.
O domínio político e social histórico massificou (a ferro e fogo) a idéia de supremacia da fé cega (e da faca, bem amolada). Contando com os bilhões de anos do planeta, a audácia do calendário cristão beira a zombaria, o escárnio. E o medo, aliado à manutenção da ignorância e reducionismo da maioria das pessoas a um saco de inutilidades, perpetua a pressão para que a imobilização social seja regra, não exceção.
Em Montreal, Canadá, apesar da forte influência cristã, tirando-se os nomes de santos nas ruas, a grande maioria das igrejas encontram-se abandonadas, e sevem de referência negativa à cidade, pelo elevado nível de consciência dos cidadãos a respeito das atitudes e posturas oficiais dos líderes religiosos. Na Holanda praticamente não há templos regulares em funcionamento...
A função educacional do Estado é mascarada e pulverizada em uma grande manobra de descrédito, péssima formação dos professores (algumas disciplinas nem formam mais docentes para a rede – vide vestibulares para licenciatura em geografia e história, por exemplo), montagem de uma grande e cara equipe burocrática e dependente, que se caracteriza pela defesa do modelo, escolas precárias, alunos desmotivados e subestimados.
Pela simples razão de que a informação causa desconforto, o conhecimento leva ao questionamento, a formação à atitude. Cultura cospe na estrutura (Marcelo Nova e Raul Seixas sibilaram bem essa loa...) e chuta a bunda dos bundões.
A diminuição de espaço e aumento da informação livre causa constrangimento em algumas situações, mas a atual posição nacional de “prosperidade” causa mais um disfarce, um desequilíbrio: a sensação de sucesso econômico que, na verdade, é um simples aumento de capacidade de endividamento pessoal, e a grande febre mundial do consumo, causa mortis da dignidade humana, aplaca a vontade, ameniza a aventura, mata a verdade. E então o povo senta. E curte a burrice sem senti-la, abraça a idiotização criticando os que se assustam e gritam.
QUEM EDUCA AMA. Não tem frase melhor para definir meu desespero...